A alimentação do paciente com câncer

O câncer é uma doença crônica e o número de casos vem crescendo no mundo todo. Caracteriza-se pelo crescimento desordenado de células que podem invadir tecidos e órgãos e espalhar-se para outras regiões do corpo. Muitos fatores influenciam o desenvolvimento do câncer, que podem ser externos, como o meio ambiente, hábitos ou costumes próprios de um ambiente social e cultural, ou internos, resultantes de eventos que geram alterações sucessivas no material genético das células – processo que pode ocorrer ao longo dos anos, em vários estágios.

A desnutrição em indivíduos com câncer é muito frequente. O Inquérito Brasileiro de Nutrição Oncológica (IBNO) 2013, do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), demonstrou alta prevalência de desnutrição de pacientes oncológicos no momento da internação em alguns hospitais do Brasil. A perda de peso maior que 10%, nos 6 meses anteriores ao diagnóstico, é considerada uma preocupação e fator de risco para a sobrevida. Os principais fatores determinantes da desnutrição nesses indivíduos são a redução na ingestão total de alimentos e o aumento da demanda calórica pelo crescimento do tumor, devido às alterações do organismo.

O comprometimento do Estado Nutricional (EN) está associado ao aumento da morbi-mortalidade no câncer. Uma avaliação nutricional precoce e periódica deve fazer parte da rotina do tratamento, pois o EN pode aumentar as chances de infecções e de piora na resposta do tratamento. A identificação do risco nutricional e do EN é feita utilizando-se parâmetros clínicos, físicos, dietéticos, sociais, antropométricos e laboratoriais, visando o melhor conhecimento do paciente.

Dessa forma, o bom estado nutricional do paciente é fundamental para a boa resposta ao tratamento e sobrevivência. A Terapia Nutricional (TN) em oncologia deve contemplar inúmeros aspectos, relacionados com o próprio tumor, com o impacto desse no metabolismo do doente e com as características individuais de cada paciente. A TN deverá ser planejada conforme o estado nutricional do paciente e a quantidade e a qualidade da aceitação alimentar. Se a aceitação alimentar não for satisfatória, faz-se necessário o uso de suplementos nutricionais orais. Quando a ingestão via oral for muito reduzida, há necessidade de cogitar o possível uso da Terapia de Nutrição Enteral (TNE).

Algumas técnicas dietéticas podem ser utilizadas para favorecer a aceitação alimentar do paciente: aumento no fracionamento, com redução do volume das preparações; alterações na consistência para facilitar a deglutição; evitar uso de temperaturas extremas; e evitar uso de condimentos industrializados, mas inserir temperos naturais para melhorar o paladar. Também são de suma importância as orientações de práticas de higiene, tanto do ambiente como dos alimentos, a fim de não comprometer o quadro imunológico do paciente.

Diante disso, verifica-se que o profissional nutricionista auxilia na recuperação do estado de desnutrição desses pacientes. A dietoterapia adequada nos diferentes tipos de tratamentos do câncer potencializa o efeito do tratamento, melhorando o prognóstico. Além disso, a assistência do nutricionista permite orientações de modo individualizado, procurando o fornecimento de nutrientes adequados para cada indivíduo, munindo-se de ferramentas que atenuam a repercussão do câncer.


Narjara Pereira Leite
é docente do curso de graduação em Nutrição da FMABC e nutricionista do Ambulatório de Oncologia Pediátrica da FMABC

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